sábado, 24 de maio de 2008

Biografia de Mario Quintana



Mario Quintana
Biografia de Mario Quintana, momentos importantes de sua vida,




Mario Quintana: um dos grandes representantes da literatura brasileira


Mario Quintana foi um importante escritor, jornalista e poeta gaúcho. Nasceu na cidade de Alegrete (Rio Grande do Sul) no dia 30 de julho de 1906. Trabalhou também como tradutor de importantes obras literárias. Com um tom irônico, escreveu sobre as coisas simples da vida, porém buscando sempre a perfeição técnica.



Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu Viveu na cidade natal até os 13 anos de idade. Em 1919, mudou-se para a cidade de Porto Alegre, onde foi estudar no Colégio Militar. Foi nesta instituição de ensino que começou a escrever seus primeiros textos literários.

Já na fase adulta, Mario Quintana foi trabalhar na Editora Globo. Começou a atuar na tradução de obras literárias. Durante sua vida traduziu mais de cem obras da literatura mundial. Entre as mais importantes, traduziu “Em busca do tempo perdido” de Marcel Proust e “Mrs. Dalloway” de Virgínia Woolf.

Com 34 anos de idade lançou-se no mundo da poesia. Em 1940, publicou seu primeiro livro com temática infantil: “A rua dos cataventos”. Volta a publicar um novo livro somente em 1946 com a obra “Canções”. Dois anos mais tarde lança “Sapato Florido”. Porém, somente em 1966 sua obra ganha reconhecimento nacional. Neste ano, Mario Quintana ganha o Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira dos Escritores, pela obra “Antologia Poética”. Neste mesmo ano foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras.

Ainda em vida recebeu outra homenagem em Porto Alegre. No centro velho da capital gaúcha é montado, no prédio do antigo Hotel Majestic, um centro cultural com o nome de Casa de Cultura Mario Quintana.

Faleceu na capital gaúcha no dia 5 de maio de 1994, deixando um herança de grande valor em obras literárias.

Principais obras de Mario Quintana:

Poesias

A Rua dos Cataventos,1940
Canções,1946
Sapato florido,1948
O aprendiz de feiticeiro,1950
Espelho mágico,1951
Poesias,1962
Quintanares,1976
A vaca e o hipogrifo, 1977
Esconderijos do tempo,1980
Baú de espantos,1986
Preparativos de viagem,1987
Da preguiça como método de trabalho, 1987
Porta giratória,1988
A cor do invisível, 1989
Velório sem defunto,1990
Água, 2001

Literatura Infantil

O batalhão das letras, 1948
Pé de pilão,1968
Lili inventa o mundo,1983
Nariz de vidro,1984
O sapo amarelo,1984
Sapato furado, 1994

Antologias

Antologia poética, 1966
Prosa & verso, 1978
Na volta da esquina,1979
Nova antologia poética,1981
Literatura comentada,1982
Primavera cruza o rio,1985
80 anos de poesia,1986
Ora bolas, 1994

Cora Coralina


BIOGRAFIA

Cora Coralina (Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas) — 20-08-1889/10-04-1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP). Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

Sintam a admiração do poeta, manifestada em carta dirigida a Cora em 1983:

"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)." Editado pela Universidade Federal de Goiás, em 1983, seu novo livro "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha", é muito bem recebido pela crítica e pelos amantes da poesia. Em 1984, torna-se a primeira mulher a receber o Prêmio Juca Pato, como intelectual do ano de 1983. Viveu 96 anos, teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos, foi doceira e membro efetivo de diversas entidades culturais, tendo recebido o título de doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás. No dia 10 de abril de 1985, falece em Goiânia. Seu corpo é velado na Igreja do Rosário, ao lado da Casa Velha da Ponte. "Estórias da Casa Velha da Ponte" é lançado pela Global Editora. Postumamente, foram lançados os livros infantis "Os Meninos Verdes", em 1986, e "A Moeda de Ouro que um Pato Comeu", em 1997, e "O Tesouro da Casa Velha da Ponte", em 1989.

Texto extraído do livro "Vintém de cobre - Meias confissões de Aninha", Global Editora — São Paulo, 2001, pág. 174.


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OPINIÃO

O amor na velhice

Por: Olympia Salete Rodrigues

A Cora Coralina que todos conhecemos: aquela mulher que se descobriu poeta já bem velhinha, depois de uma vida de luta, inclusive com um casamento desastroso que ela carregou corajosamente e, só após a morte do marido, conseguiu se ver em sua enorme e verdadeira dimensão, como mulher e como poeta.

Escolhi este poema para ilustrar este Artigo por dois motivos: o primeiro por pensar exatamente como ela ao entregar o amor ao amado. O amor tem que ser entregue SEMPRE, mesmo que não seja aceito. Porque o amor só se torna concreto se chega às mãos do ser amado. E, se não entregamos o amor que sentimos, esse amor fica maculado e se deforma, pois foi sonegado, o que, em matéria de amor, é crime sem perdão. O segundo motivo de minha escolha é colocar para todos que me lêem reflexões sobre o amor na velhice, um direito de todos nem sempre respeitado.

Uso sempre a palavra velho (ou velha)... Não gosto, quem me lê já sabe, de idoso ou terceira idade... Ai, isso até me dói.... rs..., pela tentativa de falsidade que encerra. A palavra velho implica numa carga de sabedoria e experiência que nos dá a vida à medida em que vivemos. E dessa carga também quero falar.

Eu, pessoalmente, recebo uma série de observações que poderiam até parecer desagradáveis e indelicadas. Só que não as sinto assim porque as acolho com serenidade. Por falar eu de amor, e por amar de verdade, muita gente entende que sou atrevida, ridícula, inconseqüente etc. etc.... E, o estranho disso é que não ouço tais críticas de pessoas jovens, mas de pessoas que estão caminhando para o auge da maturidade cronológica e atribuem a mim os fantasmas da própria velhice que se aproxima. Os jovens, em geral, admiram minha coragem de amar e declarar meu amor. Para eles, quase sempre, a idade fica em segundo plano, não influi na relação ou no diálogo. Mais ainda, eles até se declaram egoístas, querendo aprender e sorver a sabedoria do velho com quem se relacionam como amores ou como amigos. Daí eu concluir que aqueles que tentam anular o direito de amar dos velhos, estão apenas refletindo neles seus próprios medos, sua incapacidade de amadurecer o amor na medida em que amadurecem em idade.

É simples encarar a equação. Ninguém, em seu perfeito juízo, negaria ao velho os direitos todos que a vida lhe dá: comer, dormir, divertir-se, trabalhar, enfim, exercer plena e conscientemente a vida que pulsa. Por que negar-lhes o direito ao amor e ao sexo? Se isso fosse normal, certamente esses desejos legítimos e saudáveis se arrefeceriam com o passar do tempo. Se não arrefecem é porque a natureza sábia reconhece sua validade. E, pelo que constatamos, a libido não tem mesmo idade... Ela pede e grita no velho como pedia e gritava no jovem que ele foi. E como aceitar uma restrição que venha de fora? Como ceder à pressão e se enclausurar, renunciar a viver esse lado exultante do eu?

Pensemos um pouco em nossos antepassados: pais, avós, familiares que se entregaram a um marasmo na velhice por não terem força para lutar contra preconceitos terríveis e tão propalados que eles próprios os assumiam. O homem era até mais prejudicado, pois vivia perseguido pela "fatalidade" da impotência "obrigatória" depois de certa idade. E a grande maioria ficava impotente mesmo, pelo poder da sugestão. Os progressos da medicina vieram em seu socorro e hoje o problema, se aparece, é contornável. As mulheres não eram estigmatizadas por essa terrível previsão, mas o eram pelos preconceitos e se fechavam em conchas a partir de certa idade, acreditavam que a menopausa as tornaria menos fêmeas e menos desejáveis. E está fechado o círculo: casais velhos, frustrados e infelizes, apenas sentados indefesos na sala de espera da morte. E assim vimos ou temos notícias de tantos entes queridos que definharam depois de nos darem a vida, a educação, a sua sabedoria, para que seguíssemos felizes os nossos caminhos. E eu pergunto: isso é justo?

Convoco os ainda jovens para que abram suas mentes e preparem seu futuro de velhos. Só assim chegarão à velhice com a dignidade e a sabedoria que torna os velhos realistas, felizes e seguros. Seus preconceitos de hoje, se existem, os tornarão certamente velhos amargos, vítimas de si mesmos, das crenças errôneas que acumularam e deixaram que se cristalizassem.

Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos, esclarecer aos jovens suas posições e mostrar-lhes as verdades que viveram e que os tornaram melhores. Entreguemos o amor ao ser amado, sem vergonha e sem medo, e vivamos esse amor intensa e completamente, na alma e no corpo. Se disserem que idade não é documento..., mostremos que é sim, documento importante porque repleto de experiência e de aprendizagens muitas vezes à custa de sofrimento. Somos todos lindos, independente de aparência física, porque é linda nossa alma e linda a nossa coragem de amar! Portanto, não nos enterremos antes da hora. Vivamos, vivamos! No momento certo, outros nos enterrarão, gratos pelas lições que lhes deixamos.

Cora Coralina escreveu esse poema quando era muito mais velha que eu. Tinha o rosto enrugado, o corpo alquebrado e maltratado pela vida, mas tinha a alma lisa e pura, apesar das pauladas que certamente levou, e tinha, ao escrever, a certeza de sua grandeza como ser humano, um coração que pulsava no ritmo da própria idade. Por isso admitia que o amado a aceitasse ou não, interessava apenas torná-lo feliz por saber-se amado. Que o verdadeiro amor só quer dar!

E termino louvando essa brasileira que soube morrer amando. Exatamente como eu quero morrer, orgulhosa e valente...

Olympia Salete Rodrigues (Colaboradora do site paralerepensar -Poetisa e escritora)


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POEMAS - CORA CORALINA

Poeminha amoroso
Não sei
Velho Sobrado
Conclusões de Aninha
Assim eu vejo a vida
O cântico da terra
Mascarados
POEMINHA AMOROSO

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."
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NÃO SEI...

Não sei... se a vida é curta...

Não sei...
Não sei...

se a vida é curta
ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.
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Velho Sobrado
Cora Coralina

Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaços de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se, dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
- um muro.

Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado,
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobradão dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a " fortaleza " desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

Padre Vicente José Vieira.
D. Irena Manso Serradourada.
D. Virgínia Vieira
- grande dama de outros tempos.
Flor de distinção e nobreza
na heráldica da cidade.
Benjamim Vieira,
Rodolfo Luz Vieira,
Ludugero,
Angela,
Débora, Maria...
tão distante a gente do sobrado...

Bailes e saraus antigos.
Cortesia. Sociedade goiana.
Senhoras e cavalheiros...
-tão desusados...
O Passado...

A escadaria de patamares
vai subindo... subindo...
Portas no alto.
À direita. À esquerda.
Se abrindo, familiares.

Salas. Antigos canapés.
Cadeiras em ordem.
Pelas paredes forradas de papel,
desenho de querubins, segurando
cornucópia e laços.
Retratos de antepassados,
solenes, empertigados.
Gente de dantes.

Grandes espelhos de cristal,
emoldurados de veludo negro.
Velhas credências torneadas
sustentando
jarrões pesados.
Antigas flores
de que ninguém mais fala!
Rosa cheirosa de Alexandria.
Sempre-viva. Cravinas.
Damas-entre-verdes .
Jasmim-do-cabo. Resedá.
Um aroma esquecido
- manjerona.
Índice


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Conclusões de Aninha

Cora Coralina

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.

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Assim eu vejo a vida

Cora Coralina

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

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O cântico da terra

Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

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Mascarados

Cora Coralina

Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.

Clarice Lispector


Clarice Lispector

Nascimento: 1925/12/10 Tchetchelnik (Ucrânia)
Morte: 1977/12/09
País: Brasil


Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977) passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha. Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro. Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo. Sobre Clarice, escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinquenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".


Clarice Lispector

Precisão

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


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Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Cecília Meireles


Cecília Meireles

Nascimento: 1901/11/07 Rio de Janeiro RJ
Morte: 1964/11/09
País: Brasil


Cecília Meireles (Rio de Janeiro RJ, 1901 - 1964) concluiu, em 1917, o Curso Normal, e passou a trabalhar como professora primária. Dois anos depois publicou Espectros, seu primeiro livro de poesia, de tendência parnasiana. Seguiram-se Nunca Mais... e Poema dos Poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925), nos quais já aparecem elementos simbolistas. A partir de 1922 aproximou-se das vanguardas modernistas, principalmente dos poetas católicos. Em 1938 ganhou o Prêmio de Poesia, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo livro Viagem. Nos anos seguintes, conciliou à produção poética os trabalhos de professora universitária, tradutora, conferencista, colaboradora em periódicos, pesquisadora do folclore brasileiro. Publicou também poesia infantil. A Academia Brasileira de Letras concedeu a Cecília, postumamente, o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, em 1965. Destacam-se em sua obra os livros Vaga Música (1942), Mar Absoluto e Outros Poemas (1945), Retrato Natural (1949), Doze Noturnos da Holanda & O Aeronauta (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Canções (1956), Poemas Escritos na Índia (1961), Metal Rosicler (1960) e Solombra (1963). Cecília Meireles é considerada pela crítica poeta pertencente à segunda geração do Modernismo. No entanto, Manuel Bandeira afirmou que há em sua obra “as claridades clássicas, as melhores sutilezas do gongorismo, a nitidez dos metros e dos consoantes parnasianos, os esfumados de sintaxe e as toantes dos simbolistas, as aproximações inesperadas dos super-realistas. Tudo bem assimilado e fundido numa técnica pessoal, segura de si e do que quer dizer."


Cecília Meireles

Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.


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Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


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No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta


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Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.


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Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
A minha face?


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Serenata

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.


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A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade

Nascimento: 1902/10/31 Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG
Morte: 1987/08/17
Época: Modernismo (Segunda Geração)
País: Brasil
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Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1987) formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou, como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã. Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984), além dos póstumos Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farewell (1996). Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia.


Carlos Drummond de Andrade

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


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As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


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Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


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Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


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Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


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Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

Florbela Espanca


Florbela Espanca

Nascimento: 1894 Vila Viçosa
Morte: 1930
Época: Simbolismo
País: Portugal


Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora, e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.
Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos.
Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».
Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.

A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.
Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.

Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.



Florbela Espanca

Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...


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Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
...

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»


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Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!


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O nosso mundo

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...


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Não ser

Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!

Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
...

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...


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Em ti o meu olhar fez-se alvorada,
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura do linho


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Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!


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Os versos que te fiz

Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.


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Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...


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Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Fernando Pessoa


Fernando Pessoa

Nascimento: 1888 Lisboa
Morte: 1935
Época: Modernismo
País: Portugal


Escritor português, nasceu a 13 de Junho, numa casa do Largo de São Carlos, em Lisboa. Aos cinco anos morreu-lhe o pai, vitimado pela tuberculose, e, no ano seguinte, o irmão, Jorge. Devido ao segundo casamento da mãe, em 1896, com o cônsul português em Durban, na África do Sul, viveu nesse país entre 1895 e 1905, aí seguindo, no Liceu de Durban, os estudos secundários.
Frequentou, durante um ano, uma escola comercial e a Durban High School e concluiu, ainda, o «Intermediate Examination in Arts», na Universidade do Cabo (onde obteve o «Queen Victoria Memorial Prize», pelo melhor ensaio de estilo inglês), com que terminou os seus estudos na África do Sul. No tempo em que viveu neste país, passou um ano de férias (entre 1901 e 1902), em Portugal, tendo residido em Lisboa e viajado para Tavira, para contactar com a família paterna, e para a Ilha Terceira, onde vivia a família materna. Já nesse tempo redigiu, sozinho, vários jornais, assinados com diferentes nomes.
De regresso definitivo a Lisboa, em 1905, frequentou, por um período breve (1906-1907), o Curso Superior de Letras. Após uma tentativa falhada de montar uma tipografia e editora, «Empresa Íbis — Tipográfica e Editora», dedicou-se, a partir de 1908, e a tempo parcial, à tradução de correspondência estrangeira de várias casas comerciais, sendo o restante tempo dedicado à escrita e ao estudo de filosofia (grega e alemã), ciências humanas e políticas, teosofia e literatura moderna, que assim acrescentava à sua formação cultural anglo-saxónica, determinante na sua personalidade.
Em 1920, ano em que a mãe, viúva, regressou a Portugal com os irmãos e em que Fernando Pessoa foi viver de novo com a família, iniciou uma relação sentimental com Ophélia Queiroz (interrompida nesse mesmo ano e retomada, para rápida e definitivamente terminar, em 1929) testemunhada pelas Cartas de Amor de Pessoa, organizadas e anotadas por David Mourão-Ferreira, e editadas em 1978. Em 1925, ocorreria a morte da mãe. Fernando Pessoa viria a morrer uma década depois, a 30 de Novembro de 1935 no Hospital de S. Luís dos Franceses, onde foi internado com uma cólica hepática, causada provavelmente pelo consumo excessivo de álcool.

Levando uma vida relativamente apagada, movimentando-se num círculo restrito de amigos que frequentavam as tertúlias intelectuais dos cafés da capital, envolveu-se nas discussões literárias e até políticas da época. Colaborou na revista A Águia, da Renascença Portuguesa, com artigos de crítica literária sobre a nova poesia portuguesa, imbuídos de um sebastianismo animado pela crença no surgimento de um grande poeta nacional, o «super-Camões» (ele próprio?). Data de 1913 a publicação de «Impressões do Crepúsculo» (poema tomado como exemplo de uma nova corrente, o paúlismo, designação advinda da primeira palavra do poema) e de 1914 o aparecimento dos seus três principais heterónimos, segundo indicação do próprio Fernando Pessoa, em carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro, sobre a origem destes.
Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro (seu dilecto amigo, com o qual trocou intensa correspondência e cujas crises acompanhou de perto), Luís de Montalvor e outros poetas e artistas plásticos com os quais formou o grupo «Orpheu», lançou a revista Orpheu, marco do modernismo português, onde publicou, no primeiro número, Opiário e Ode Triunfal, de Campos, e O Marinheiro, de Pessoa ortónimo, e, no segundo, Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa ortónimo, e a Ode Marítima, de Campos. Publicou, ainda em vida, Antinous (1918), 35 Sonnets (1918), e três séries de English Poems (publicados, em 1921, na editora Olisipo, fundada por si). Em 1934, concorreu com Mensagem a um prémio da Secretaria de Propaganda Nacional, que conquistou na categoria B, devido à reduzida extensão do livro. Colaborou ainda nas revistas Exílio (1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922-1926, de que foi co-director e onde publicou O Banqueiro Anarquista, conto de raciocínio e dedução, e o poema Mar Português), Athena (1924-1925, igualmente como co-director e onde foram publicadas algumas odes de Ricardo Reis e excertos de poemas de Alberto Caeiro) e Presença.

A sua obra, que permaneceu maioritariamente inédita, foi difundida e valorizada pelo grupo da Presença. A partir de 1943, Luís de Montalvor deu início à edição das obras completas de Fernando Pessoa, abrangendo os textos em poesia dos heterónimos e de Pessoa ortónimo. Foram ainda sucessivamente editados escritos seus sobre temas de doutrina e crítica literárias, filosofia, política e páginas íntimas. Entre estes, contam-se a organização dos volumes poéticos de Poesias (de Fernando Pessoa), Poemas Dramáticos (de Fernando Pessoa), Poemas (de Alberto Caeiro), Poesias (de Álvaro de Campos), Odes (de Ricardo Reis), Poesias Inéditas (de Fernando Pessoa, dois volumes), Quadras ao Gosto Popular (de Fernando Pessoa), e os textos de prosa de Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos Filosóficos, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, Da República (1910-1935) e Ultimatum e Páginas de Sociologia Política. Do seu vasto espólio foram também retirados o Livro do Desassossego por Bernardo Soares e uma série de outros textos.

A questão humana dos heterónimos, tanto ou mais que a questão puramente literária, tem atraído as atenções gerais. Concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. Traduzem, por assim dizer, a consciência da fragmentação do eu, reduzindo o eu «real» de Pessoa a um papel que não é maior que o de qualquer um dos seus heterónimos na existência literária do poeta. Assim questiona Pessoa o conceito metafísico de tradição romântica da unidade do sujeito e da sinceridade da expressão da sua emotividade através da linguagem. Enveredando por vários fingimentos, que aprofundam uma teia de polémicas entre si, opondo-se e completando-se, os heterónimos são a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irónica pela inteligência. Deles se destacam três: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Segundo a carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos seus heterónimos, Caeiro (1885-1915) é o Mestre, inclusive do próprio Pessoa ortónimo. Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso, em 1915, embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, os do livro O Guardador de Rebanhos, os de O Pastor Amoroso e os Poemas Inconjuntos, sendo os do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a «novidade um pouco estranha ao carácter geral da obra»). Sem profissão e pouco instruído (teria apenas a instrução primária), e, por isso, «escrevendo mal o português», órfão desde muito cedo, vivia de pequenos rendimentos, com uma tia-avó. Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza», procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a metafísica, caracterizando-se pelo seu panteísmo e sensacionismo que, de modo diferente, Álvaro de Campos e Ricardo Reis iriam assimilar.
Ricardo Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de jesuítas, recebeu uma educação clássica (latina) e estudou, por vontade própria, o helenismo (sendo Horácio o seu modelo literário). Essa formação clássica reflecte-se, quer a nível formal (odes à maneira clássica), quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado. Médico, não exercia, no entanto, a profissão. De convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação da República. Pagão intelectual, lúcido e consciente, reflectia uma moral estoico-epicurista, misto de altivez resignada e gozo dos prazeres que o não comprometessem na sua liberdade interior, e que é a resposta possível do homem à dureza ou ao desprezo dos deuses e à efemeridade da vida.

Álvaro de Campos, nascido em Tavira em 1890, era um homem viajado. Depois de uma educação vulgar de liceu formou-se em engenharia mecânica e naval na Escócia e, numas férias, fez uma viagem ao Oriente, de que resultou o poema Opiário. Viveu depois em Lisboa, sem exercer a sua profissão. Dedicou-se à literatura, intervindo em polémicas literárias e políticas. É da sua autoria o Ultimatum, publicado no Portugal Futurista, manifesto contra os literatos instalados da época. Apesar dos pontos de contacto entre ambos, travou com Pessoa ortónimo uma polémica aberta. Protótipo do vanguardismo modernista, é o cantor da energia bruta e da velocidade, da vertigem agressiva do progresso, de que a Ode Triunfal é um dos melhores exemplos, evoluindo depois no sentido de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida, progressivos e auto-irónicos.

De entre outros, de menor expressão, destaca-se ainda o semi-heterónimo Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros que sempre viveu sozinho em Lisboa e revela, no seu Livro do Desassossego, uma lucidez extrema na análise e na capacidade de exploração da alma humana.

Quanto a Fernando Pessoa ortónimo, segue, formalmente, os modelos da poesia tradicional portuguesa, em textos de grande suavidade rítmica e musical. Poeta introvertido e meditativo, anti-sentimental, reflecte inquietações e estranhezas que questionam os limites da realidade da sua existência e do mundo. O poema Mensagem, exaltação sebastiânica que se cruza com um certo desalento, numa expectativa ansiosa de ressurgimento nacional, revela uma faceta esotérica e mística do poeta, manifestada também nas suas incursões pelas ciências ocultas e pelo rosa-crucianismo.

Figura cimeira da literatura portuguesa e da poesia europeia do século XX, se o seu virtuosismo é, sobretudo inicialmente, uma forma de abalar a sociedade e a literatura burguesas decrépitas (nomeadamente através dos seus «ismos»: paúlismo, interseccionismo, sensacionismo), ele fundamenta a resposta revolucionária à concepção romântica, sentimentalmente metafísica, da literatura. O apagamento da sua vida pessoal não obviou ao exercício activo da crítica e da polémica em vida, e sobretudo a uma grande influência na literatura portuguesa do século XX.

Existe presentemente, em Lisboa, a Casa Fernando Pessoa, instalada na última morada do autor.


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13 de junho de 1888 - Nasce em Lisboa, às 3 horas da tarde, Fernando Antônio Nogueira Pessoa.
1896 - Parte para Durban, na África do Sul.
1905 - Regressa a Lisboa
1906 - Matricula-se no Curso Superior de Letras, em Lisboa
1907 - Abandona o curso.
1914 - Surge o mestre Alberto Caeiro. Fernando Pessoa passa a escrever poemas dos três heterônimos.
1915 - Primeiro número da Revista "Orfeu". Pessoa "mata" Alberto Caeiro.
1916 - Seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1924 - Surge a Revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1926 - Fernando Pessoa requere patente de invenção de um Anuário Indicador Sintético, por Nomes e Outras Classificações, Consultável em Qualquer Língua. Dirige, com seu cunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.
1927 - Passa a colaborar com a Revista "Presença".
1934 - Aparece "Mensagem", seu único livro publicado.
30 de novembro de 1935 - Morre em Lisboa, aos 47 anos.





Fernando Pessoa

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.


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Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


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Quer pouco, terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.


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Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Niguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.


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Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.


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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


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Não tenho ambições nem desejos.
ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sózinho.
...

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
...
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...
...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
...

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


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Acordo de noite subitamente.
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...


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E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.


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Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


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Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
...

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


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Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


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Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.
...

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?


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Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.


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Custa tanto saber o que se sente quando reparamos em nós!... Mesmo viver sabe a custar tanto quando se dá por isso... Falai, portanto, sem repardes que existis...
...

Quem pudesse gritar para despertarmos! Estou a ouvir-me gritar dentro de mim, mas já não sei o caminho da minha vontade para a minha garganta.


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O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
...

Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.
...

Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar...

Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
...

Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido. Ó horror
paradoxal deste pensar...
...

Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!


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Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.


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Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!


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Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço.


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Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


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Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?
...

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


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Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


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Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada
Entregai-vos ao travo doce das delicias
Que filhas são dos seus tormentos
Porém, não busqueis poder no amor
Que só quem da sua lei se sente escravo
Pode considerar-se realmente livre


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Bendito seja eu por tudo o que não sei
gozo tudo isso como quem sabe que há o sol


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Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é dele
e não se cura de fora.
Porque sofrer não é ter falta de tinta
ou o caixote não ter aros de ferro!


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E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Alcy Cheuiche


Mozart Pereira Soares Adeus ao Mestre

Alcy Cheuiche

Na terra vermelha de Palmeira das Missões nasceu um dos homens mais preciosos que o Brasil possuía. E nela repousa agora, depois de encantar a terra em noventa e um anos de vida. O conhecimento individual, na era das especializações, é cada vez mais limitado. Vai longe o tempo em que um único ser humano era depositário de extensões imensas de sabedoria. Temos que recuar mais de dois milênios para encontrar o modelo de Mozart Pereira Soares. Aristóteles, que foi capaz de entender o funcionamento do organismo humano, dos animais e das plantas, e de especular sobre a origem e o destino de todos os seres vivos, despertou naquele jovem estudante de Medicina Veterinária a ânsia do conhecimento universal. E quando, no ano de 1954, defendeu sua tese de Doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, parece que defendia também o direito de recuar no tempo para enxergar mais longe e melhor. Concepções Anatômicas e Fisiológicas de Aristóteles recebeu nota máxima da banca examinadora e revelou ao meio acadêmico brasileiro uma nova estrela das ciências médicas. Antes disso, como conta em sua trilogia A Restauração da Manhã, composta dos livros de memórias Pastoral Missio- neira, Tempo de Piá e Meu Verde Morro, o menino Mozart teve que vencer a pobreza, que Saint-Exupéry considerava o maior de todos os obstáculos para o sucesso humano. Descrita por ele mesmo em palavras simples: Ainda vim a conhecer o galpão velho em que nasci, mal arrimado em seis esteios cambembes, rodeado de costaneiras de pinho, cheio de frinchas por onde o vento miava. Na névoa dessas lembranças surge o meu pai, que eu via de bigode ruivo, carão vermelho e peito suado, trabalhando, criando as coisas que se espalhavam à roda de nós, sobre a terra. A mesma terra vermelha que está amontoada ao lado do buraco cavado à pá, onde pediu para ser colocado o seu corpo sem vida. No lugar onde nasceu, no dia 29 de março de 1915, vai repousar o Mestre que nos deixou no dia 11 de dezembro de 2006. Plantado no campo como uma das muitas árvores que cultivou. No meio ambiente despido de poluição que conservou como ecologista, um dos pioneiros dessa militância ao lado de José Lutzenberger. Próximo a uma escola agrícola, outra de suas paixões, o túmulo será vizinho do pinheiro de trezentos anos, que ele apresentava com orgulho aos visitantes, e da casa que foi seu refúgio, onde será construída uma biblioteca para abrigar os milhares de livros que ele leu e guardou. Um túmulo pastoral, digno de um sábio. Onde cada manhã será res- taurada pelo perfume da brisa e o canto dos sabiás. Mozart Pereira Soares, que aprendeu a ler nos jornais que vendia nas ruas de Palmeira das Missões, tem hoje na cidade missioneira um magnífico Centro Cultural com o seu nome. Cientista e artista conhecido e admirado em todo o país, nos deixa duas cadeiras vagas: uma na Academia Brasileira de Medicina Veterinária, com sede no Rio de Janeiro, e outra na Academia Rio-Grandense de Letras, em Porto Alegre. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul conquistou dois diplomas de graduação: o de Médico-Veterinário, em 1943, e o de Advogado, em 1986, aos 71 anos de idade. Nesse meio tempo, como Professor Catedrático de Anatomia e Fisiologia dos Animais Domésticos, deixou sua marca em milhares de alunos, foi Diretor da Faculdade de Agronomia e Veterinária, Membro do Conselho Universitário e Reitor pro tempore da mesma Universidade que o iria destacar, em 1999 com o título de Professor Emérito. Na Universidade de Santa Maria, indicado pelo Prêmio Nobel Bernardo Houssay, de quem tinha sido aluno em Buenos Aires, foi o primeiro Professor de Fisiologia da Faculdade de Medicina, uma façanha digna de um veterinário de notório saber. Saber idêntico iluminava o homem de letras, detentor de muitas distinções literárias, como a Medalha Simões Lopes Neto, escritor que conhecia a fundo e sobre o qual nos deixou um ensaio magnífico: Aspectos sensoriais em Lendas do Sul. Erico Verissimo, que nasceu na cidade vizinha de Cruz Alta, escolheu Mozart Pereira Soares para prefaciar a mais famosa de suas obras, O Tempo e o Vento. Ivan Lins elogiou seus livros em prosa e verso, o identificando como possuidor de uma daquelas almas sonoras, a que se referia Eça de Queiroz, nas quais vibra, em resumo, toda a vida que as cerca. O livro/poema que escreveu sobre o Papa João XXIII, Adaga Flor, é obra de referência ética e estética. Erva Cancheada revelou ao Rio Grande do Sul e ao Brasil o belo folclore dos ervateiros, dos artífices do chimarrão. E para quem quiser conhecer um esboço abrangente de toda a obra escrita do nosso Mestre, recomendo o livro de Antonio Hohlfeldt, Saber Universitário com Gosto Campeiro que tive a honra de prefaciar na primavera de 1997: De tanto ver triunfarem as nulidades, como dizia Ruy, muitos até duvidam que existam ainda hoje seres humanos enciclopédicos como Mozart Pereira Soares. Intelectuais famintos de saber que conheçam e dissertem com a mesma profundidade sobre a história dos homens, a vida dos animais, o cultivo das plantas, a idade das pedras e a pureza das águas. Aqui perto deste túmulo campeiro, junto ao qual acabo de dizer algumas palavras de despedida, está aquela nascente onde Mozart bebia com as mãos em concha, desde a mais remota infância. Um lugar mágico onde ele levou a esposa Terezinha Beltrão Soares, seu primeiro e único amor, a beber com ele em muitos e muitos anos de vida, e onde chorou sua morte em janeiro de 2004. O olho d’água que é o ponto de partida, como dizia Emil Ludwig, dos seres humanos e dos rios. Algumas dessas nascentes somem debaixo da terra depois de alguns poucos passos, outras se transformam apenas em poços ou pequenas lagoas. Raras são as que formam rios capazes de chegarem ao oceano. Como esta de Mozart Pereira Soares, um ser humano que atingiu as maiores profundidades sem deixar de ser sempre límpido e cristalino. Um cérebro poderoso a serviço do bem.



Alcy Cheuiche com Olímpus, seu cavalo Andaluz.




Alcy Cheuiche é o eleito
MÁRCIO PINHEIRO - ZERO HORA
Foto: Mauro Vieira

Um freqüentador da Praça da Alfândega, num estado visivelmente alterado, aborda o homem cercado por câmeras de TV e fotógrafos e diz: - Se me der dinheiro, eu voto no senhor. - Não precisa, já estou eleito.
Foi esse o primeiro contato que o escritor Alcy Cheuiche teve com parte do público com quem ele vai conviver durante os 15 dias da realização da 52ª Feira do Livro de Porto Alegre. Poucos minutos antes, em um café no Margs, Cheuiche havia sido anunciado como patrono do evento, que começa no próximo dia 27 de outubro. Experiência no cargo ele tem. Foi patrono de feiras do livro de muitas escolas em todo Rio Grande do Sul e das cidades de Alegrete, Caçapava do Sul, Gramado, Gravataí e São Sepé.
- Na Feira do Livro de Porto Alegre, concorri cinco vezes e fico feliz em ser homenageado no ano em que se comemora o centenário de Mario Quintana, um dos grandes incentivadores que tive - disse Cheuiche.
O autor também aproveitou a ocasião para recordar sua relação com a Feira, local onde autografou seu primeiro livro, O Gato e a Revolução, em outubro de 1967.
- Era uma outra Feira do Livro, com uma dimensão bem menor. O desafio agora é expandir o evento mas não deixar que ele perca suas características de uma festa ao ar livre.
Gaúcho de Pelotas - embora considere Alegrete como sua cidade natal -, Alcy José de Vargas Cheuiche nasceu em julho de 1940. Formado em veterinária, começou a escrever contos e poesias na metade dos anos 60, antes de viajar para a Europa, onde fez cursos de pós-graduação na França e na Alemanha.
- Morei em São Paulo, na Europa, mas sempre me considerei um homem do campo. Minhas referências culturais são todas de lá.
E foi no romance histórico que Cheuiche encontrou seu caminho na literatura, com livros como Sepé Tiaraju: Romance dos Sete Povos das Missões (traduzido para o espanhol e para o alemão e também editado em quadrinhos no Brasil) e Ana Sem Terra (com oito edições no Brasil e uma na Alemanha, onde foi escolhido para representar o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt de 1994).
Além dessas obras, merecem destaque na bibliografia de Cheuiche as novelas Lord Baccarat, A Mulher do Espelho e Nos Céus de Paris - Romance da Vida de Santos Dumont, uma biografia do Pai da Aviação. Seu trabalho mais recente, lançado em 2003, é Jabal Lubnàn - As Aventuras de um Mascate Libanês, romance que narra a trajetória de seu avô.
Morador do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e casado com Maria Berenice Gervásio Cheuiche, o novo patrono conseguiu conciliar a paixão pela escrita e pela veterinária dividindo com a mulher a direção da revista A Hora Veterinária, publicação especializada que existe há 25 anos.
Ontem, enquanto caminhava pela praça, conversava com ex-patronos - Frei Rovílio e Walter Galvani foram lá para abraçá-lo - dava entrevistas e posava para as fotos, Cheuiche já fazia planos.
- Minha intenção é transformar a emoção em ação. Pretendo me envolver muito com todas as atividades da Feira do Livro.


Alcy Cheuiche é o novo patrono da Feira do Livro
Assessoria de imprensa da Feira do livro
Foto: Luiz Ventura

― Bem-vindo, Alcy Cheuiche!

Com essas palavras, o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Waldir da Silveira, anunciou o novo patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, que chega a sua 52ª edição neste 2006. O anúncio foi feito durante um café da manhã no Bistrô do Margs, que reuniu jornalistas e outros autores que concorriam ao posto. Airton Ortiz, Carlos Urbim, Fabrício Carpinejar, Jane Tuitikian estiveram presentes e Charles Kiefer, Juremir Machado da Silva, Luiz de Miranda, Luís Augusto Fischer e Neltair Abreu (Santiago) não puderam comparecer.

Cheuiche agradeceu aos outros patronáveis pela modéstia de haverem se deixado candidatar, explicando que há sempre um acima de todos os homenageados: a Feira do Livro. O autor manifestou seu contentamento em poder desempenhar o papel de anfitrião da Feira no ano do centenário de um querido amigo seu, Mario Quintana.

― A emoção tem que ser transformada em ação ― afirmou o novo patrono, destacando a importância de uma luta efetiva pela difusão do amor à leitura. Para ele, a Feira do Livro de Porto Alegre contribui para isso e é um modelo a ser seguido pelo Brasil afora. O caráter popular de ter os livros expostos em praça pública, acessíveis aos freqüentadores, é, segundo Cheuiche, uma característica de valor inestimável que nossa Feira não pode perder.

O novo patrono ressaltou ainda a importância de estimular crianças e jovens a ter contato com os livros, e agradeceu aos professores que incentivam junto a seus alunos a leitura de autores gaúchos. Terminou com um pedido-lembrete à imprensa:

― A Feira está muito mais cultural hoje do que há 20 anos. Procurem dar atenção especial às palestras, conferências e debates que estão programados para acontecer no período da Feira, e não apenas aos lançamentos de livros.

Sobre Alcy Cheuiche
Depois de ter sido patrono de Feiras do Livro das cidades de Alegrete, Caçapava do Sul, Gramado, Gravataí e São Sepé, Alcy José de Vargas Cheuiche é agora o patrono da maior feira de livros a céu aberto da América Latina: a Feira do Livro de Porto Alegre. Gaúcho de Pelotas, Cheuiche nasceu a 21 de julho de 1940. Aos quatro anos de idade, mudou-se com a família para Alegrete, que considera sua terra adotiva. Foi lá que aprendeu a ler, escrever e amar a vida no campo. O interesse pela literatura foi despertado pelo pai, um grande contador de histórias, e pelas aventuras no Sítio do Pica-pau Amarelo narradas por Monteiro Lobato.
Durante a Faculdade de Agronomia e Veterinária, que cursou na UFRGS, em Porto Alegre, Alcy já colaborava em jornais universitários com artigos, contos e poesias. Em 1966, enquanto fazia um estágio em Veterinária na Alemanha, escreveu seu primeiro livro de prosa, O gato e a revolução. Em outubro de 1967, o livro era lançado na Feira do Livro de Porto Alegre. Mario Quintana, seu “conterrâneo” do Alegrete, recebeu o primeiro autógrafo.
A produção de Cheuiche não parou de crescer desde então. Em 1978, a Sulina publicou Sepé Tiaraju: romance dos Sete Povos das Missões. O livro foi considerado o melhor do ano pela Faculdade de Letras de Santa Rosa e traduzido para o espanhol e para o alemão, além de editado em quadrinhos no Brasil. A primeira edição em espanhol esgotou-se em cinco meses.
É unânime a opinião da crítica de que foi no romance histórico que Cheuiche encontrou seu caminho na literatura brasileira. Em Ana sem terra, (oito edições no Brasil e uma na Alemanha), o autor uniu seu talento de romancista com uma corajosa pesquisa histórica sobre a reforma agrária. Na Alemanha, o livro foi um dos escolhidos para representar o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt de 1994, tendo recebido calorosa acolhida da crítica especializada. A revista Die welt, na edição de outubro de 1994, destacou: “Escrito em estilo vivo e cativante, o romance de Alcy Cheuiche é uma descoberta para aqueles que procuram uma entrada literária para o maior país da América Latina”.
Entre os livros mais conhecidos do novo patrono da Feira estão também as novelas Lord Baccarat e A mulher do espelho. A primeira trata do problema das drogas no Brasil, abordando a figura do traficante que freqüenta a alta sociedade e procura fazer carreira política. Foi o terceiro livro de ficção mais vendido da Feira do Livro de Porto Alegre de 1993. A mulher no espelho recorda a saga dos “dezoito do forte de Copacabana”, oferecendo ao leitor uma narrativa em que História e Espiritismo mesclam-se numa trama envolvente.
Alcy Cheuiche ganhou o prêmio literário Ilha de Laytano com o romance histórico A Guerra dos Farrapos. O livro de crônicas Na garupa de Chronos, publicado em novembro de 2000, ganhou o Prêmio Açorianos 2001. Em 1998, o autor recebeu dois prêmios literários pelo livro Nos céus de Paris - Romance da vida de Santos Dumont: troféu da RBS como o melhor romance lançado na Feira do Livro de Porto Alegre e troféu Laçador, como o melhor livro publicado no sul do Brasil em 1998. Em 2002, pelo conjunto da obra, recebeu do Governo do Estado do Rio Grande do Sul a Medalha Simões Lopes Neto.
Cheuiche é membro vitalício da Academia Rio-grandense de Letras e sócio fundador da Associação Gaúcha de Escritores. Na comunicação científica, divide com a esposa, Maria Berenice Gervasio Cheuiche, o cargo de direção da revista A hora veterinária, editada em convênio cultural com a França há 25 anos.



Alcy Cheuiche recebe homenagem na
Feira do Livro de Bagé
O SESC, juntamente com Secretaria de Cultura e a Faculdade de Comunicação da URCAMP, concederam o título de "Incentivo à Literatura" durante a Feira do Livro de Bagé.
Com dois livros de contos e um romance histórico, a Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche formou nos anos de 2002 e 2003 com a colaboração da Faculdade de Comunicação da URCAMP duas turmas de contistas.


Lançamento do Livro "Seis contistas de Bagé"
Dia 13, terça-feira, às 20 horas, no Clube Comercial de Bagé, Lançamento do livro "SEIS CONTISTAS DE BAGÉ"
"SEIS CONTISTAS DE BAGÉ" nos revela seis novos escritores, malhados na Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche. Leitura leve e ao mesmo tempo reflexiva. São 24 contos. Dezoito de ficção que retratam nosso modo de ser meridional urbano e pampeano. Seis de cunho histórico onde Bagé, por ser ponto estratégico e fronteira, se relaciona com o Brasil e o mundo. Oitenta e oito páginas de humor, história, fatos do cotidiano e assombração.
AUTORES: Cláudio Falcão, Fabiana Gonçalves, Rafaela Gonçalves Ribas, Sarita Barros, Sonia Alcalde e Yara Mª Botelho Vieira

A Liga Feminina de Combate ao Câncer foi a entidade escolhida para ser beneficiada no dia do lançamento.

Link:http://www.graficametropole.com.br/livraria/catalogo.asp



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Alcy Cheuiche na Bienal de São Paulo
O escritor Alcy Cheuiche estará autografando o livro "Jabal Lubnàn - As aventuras de um mascate libanês" na Bienal de São Paulo, nesta segunda feira dia 19 de abril às 19 horas.


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Cultura: Quando se volta o olhar às etnias imigrantes

Hoje (11/11/2003), a partir das 18h, o romancista Alcy Cheuiche lança em Pelotas seu último trabalho, Jabal Lubnàn: As aventuras de um mascate libanês. A obra reúne a mesma técnica do romance histórico utilizada por Cheuiche em publicações anteriores. Nas 176 páginas de Jabal... o leitor encontrará as histórias e fábulas da cultura rio-grandense.
Mas não é só isso. "Utilizei vários arquivos de família", diz o pelotense naturalizado caçapavano, em entrevista por telefone ao Diário Popular. A obra, segundo o autor, é uma leitura dinâmica, pois reúne as aventuras de um mascate (vendedor) durante a Revolução Federalista. "É, sobretudo, uma forma de desmitificar a visão que muitos ostentam sobre os povos imigrantes no Estado", ressalta Cheuiche.
"O imigrante alemão não é, pelo fato de ser de origem germânica, necessariamente nazista", explica ele o enfoque da obra. "Libaneses, portanto, não são, pelo fato de serem descendentes de árabes, seguidores de Saddam Hussein." Os mascates, acrescenta o romancista, também estão valorizados na obra. "Eles faziam as vezes de correio durante a Revolução."
Alcy Cheuiche lança, ainda, outras duas publicações. Estórias e Lendas de Caçapava do Sul e Estórias e Lendas de Bagé. Ambos são fruto de oficinas literárias realizadas por Cheuiche com alunos da Universidade da Região da Campanha (Urcamp). "A forma clássica da oficina literária é oriunda da Inglaterra e da França. Nos dois casos, optei por um método adaptado à região", diz.
Cada um dos alunos escreveu três contos, que estão presentes nas publicações. "A leitura é atraente pelos relatos folclóricos, abundantes nas regiões de Caçapava do Sul e Bagé." As obras buscam, sobretudo, valorizar os talentos que, muitas vezes, estão fora do círculo que "dá as cartas": a capital. "As publicações mostram que existem talentos ainda por serem descobertos no interior do Rio Grande do Sul."
E idade, para a criação literária, não é problema. "Participaram das oficinas alunos de 16 a 70 anos", comenta Cheuiche. Para ele, a idade não é determinante: o que vale a pena é a vontade de escrever. E o olhar regional dos novos contistas está impresso em cada uma das páginas que Alcy lança hoje na 31ª Feira do Livro de Pelotas.
NA BIBLIOTHECA
Logo após o lançamento das obras na Feira, Alcy Cheuiche, acompanhado por Jorge Moraes e Mario Osorio Magalhães conversa sobre produção literária. Será no Salão Nobre da Bibliotheca, às 19h30min, com entrada franca. Vai lá.

Marcus André Bugs - Diário Popular de Pelotas - on-line

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Alcy Cheuiche é o patrono da 7ª Feira do Livro O escritor alegretense Alcy Cheuiche é o patrono da 7ª Feira do Livro de Gramado, que está sendo realizada entre 27 de junho e 13 de julho de 2003. Cheuiche foi escolha unânime da comissão organizadora do evento, que levou em conta a popularidade do autor e de suas obras junto aos estudantes de Gramado. O carisma do escritor se explica pela sua participação no Projeto Autor Presente, do Instituto Estadual do Livro, durante a Feira do Livro de 2002. “Cheuiche foi muito atencioso e receptivo, por isso seu nome foi lembrado para patrono desta edição”, diz a secretária de Educação e Cultura, Vera Pante.
Para o escritor, ser patrono da Feira do Livro de Gramado é uma grande honra. “Buscarei valorizar ao máximo o evento”, diz o autor.
Seção de autógrafos
Cheuiche lançou a 2ª edição do livro “Na garupa de Chronos” na 7ª Feira do Livro de Gramado. Vencedor do “Prêmio Açorianos 2001”, a obra é composta por uma seleção de crônicas que veicularam nos principais jornais do Rio Grande do Sul, de 1980 a 2000. Participaram também os alunos da “Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche”, de Bagé com o livro “Estórias e Lendas de Bagé”, de autoria de Ana Maria Delabary, Ana Maria Feltrin, Angelina F. Quintana, Bruno Delabary, Cristiane Betemps, Elizabeth Fagundes, José Brito e Orlando Brasil; Caçapava do Sul com “Estórias e Lendas de Caçapava do Sul” de autoria de Cristina Oliveira, Eneida Marques, Carlos Cassel, Lucas Zamberlan, Luiz Hugo Burin e Remaldo Cassol.
A seção de autógrafos foi realizada no sábado dia 28/06, na rua coberta onde a feira está montada. Muitas pessoas prestigiaram o evento, entre eles o Prefeito de Gramado Pedro Beltolucci, os escritores Luiz Antônio de Assis Brasil e Valeska de Assis, o radialista e escritor Walter Galvani, entre outros amigos.


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Serra acima
O escritor alegretense Alcy Cheuiche será o patrono da 7ª Feira do Livro de Gramado, que vai se realizar entre 27 de junho e 13 de julho. Cheuiche foi escolha unânime da comissão organizadora do evento, que levou em conta a popularidade do autor. O sucesso do escritor em Gramado tem origem na sua participação na Feria do Livro de 2002, quando esteve em diversas escola da cidade. Jornal Zero Hora, Segundo Caderno, Contracapa, página 12, terça-feira, de 8 de abril de 2003.


CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2002
IEL lança tributo a Alcy Cheuiche
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O Instituto Estadual do Livro (André Puente, 318) lança hoje, às 19h, o oitavo fascículo da coleção 'Autores Gaúchos - Nova Série', dedicado a Alcy Cheuiche.
Na obra, a trajetória do autor é recuperada através da literatura produzida ao longo dos anos, e revelada a partir de entrevistas feitas por Walter Galvani, Ivette Brandalise e Tânia Carvalho. Entre os títulos de destaque em sua produção, estão 'A Guerra dos Farrapos', 'Lord Baccarat' e 'Ana Sem Terra'.
Nascido em 1940, Cheuiche formou-se em Agronomia e Veterinária pela Ufrgs em 1962. Em 1985, recebeu o prêmio literário Ilha de Laytano com 'A Guerra dos Farrapos', e, em 1998, duas premiações por 'Nos Céus de Paris'. Já em 2001, 'Na Garupa de Chronos' arrebatou o Prêmio Açorianos 2001. Com livros traduzidos na Alemanha e no Uruguai, o autor é ainda poeta e intérprete de poesia. Em setembro último, foi condecorado pelo governo do Estado com a Medalha Simões Lopes Neto, concedida a personalidades de destaque por suas atuações nos campos da Cultura, Arte, Letras, Educação e Magistério.

Fabrício Carpi Nejar


Biografia de um poeta com a intromissão do autor

1972 - Nasce Fabrício Carpi Nejar, em Caxias do Sul, o terceiro dos quatro filhos de Maria Carpi e Carlos Nejar. Na infância, pouca coisa sobra além da imaginação. Os pais relatam fatos e proezas, mas somente concordamos por educação, acenando a cabeça. Tudo o que eu posso dizer não é minha mentira, mas mentira herdada. Sei que me perdi em um cemitério de Guaporé, terra de meus avós maternos. Estava explorando uma cova vazia. Minha mãe me encontrou, desesperada. Eu gritei, segundo fontes familiares: "aqui não tem mais ninguém, esse se mandou" .
Leonida, meu avô, era um italiano que se naturalizou brasileiro. Violinista, largou Reggio Emilia doente por um grande amor e se curou no Brasil com outro grande amor, Elisa. Deixou de tocar. Sua asma substituiu o violino.

1974 - Passa a morar em Porto Alegre, na avenida Corte Real. Era uma casa branca, de esquina, dois andares e outros degraus informais com o barulho da chuva. Eu me acostumei com minha estranheza, depois de anos de convivência. Achava-me um simpático desajeitado. Lembro que numa fila de autógrafos, um senhor comentava sobre um tal de Carpinejar, dizendo: " quando pequeno, ele era feio como uma assombração". Como eu não era bonito mesmo, isso me deu coragem. Não tinha nada a perder.

1979 - Muda de residência para rua Lageado, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, onde vive até os 20 anos. Ingressa na Escola Municipal Imperatriz Leopoldina, a três quadras de casa. Vestimentas da época: botas ortopédicas, calças com remendos de couro nos joelhos, camisas xadrez. Os pais tinham a mania de vestir eu e o Miguel com as mesmas roupas. Forçavam gêmeos. O primeiro ano na escola foi difícil. A professora informou que não iria me alfabetizar. Durante seis meses, tirei D no ditado. Chorava em cima do telhado de casa. Um dia o papel secou e comecei a entender as palavras. Até hoje não sei se elas me escutam. Na escola, nenhum menino tinha bola de futebol . Jogávamos com uma pedra no recreio. Algo bizarro, romano, mas todo mundo comemorava o barulho da lasca no fundo do gol. Falava torto, sem o erre. Continuo falando torto, mas com o erre. Recebi tudo o que é apelido. Não confesso. Meu irmão Rodrigo me convenceu a enterrar meus bonecos no jardim. Prometeu que eles voltariam com cabelos compridos e unhas afiadas. Minha avó Elisa faleceu. Fiz o meu primeiro poema, que terminou figurando no convite de enterro.

1981 - Carlos Nejar se separa de Maria Carpi. Durante a ausência da figura paterna, eu conversava com as roupas de seu armário. Tanto que Nejar escreveu um poema em "Os viventes", perguntando: "O que procurava em minhas roupas, o instinto de me sobreviver?" Vinte anos depois, respondia com versos de "Um terno de pássaros ao sul". A mãe cuida dos quatro filhos, é aprovada em concurso na Defensoria Pública e dá aulas na PUC.

1987 - Ingressa no Colégio Aplicação, onde realiza o 2º Grau. O Parque da Redenção é meu refúgio. Nunca me esqueço de um porre que tomei nos quinze anos de uma colega. Às amigas, pago resgate pelas cartas de amor que escrevi durante esse período. Fase dos cursos que não me profissionalizaram como desenho e datilografia.

1990 - É aprovado no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Cursa Jornalismo. Publica seu primeiro poema na revista experimental da Fabico. Maria Carpi se lança como poeta com Nos Gerais da Dor. A leitura de sua obra me fez sair definitivamente da adolescência.

1994 - Nasce sua primeira filha, Mariana, do seu namoro com Géssica. Quando pequena, minha menina me perguntou ao comer um cacho de uvas: "onde é o começo da mordida?" Ela ainda espera uma resposta.

1995 - Forma-se em Jornalismo e começa a trabalhar na imprensa. Senti que a vida é mais complicada do que a minha letra.

1996 - Casa com Ana Lúcia. Os olhos egípcios dela têm gosto de amoras.

1998 - Publica seu primeiro livro, As Solas do Sol, pela editora Bertrand Brasil, em convênio com a Fundação Biblioteca Nacional. Une seus sobrenomes e passa a assinar Carpinejar. Mudei o nome para não desonrar a família.

1999 - Recebe o Prêmio Fernando Pessoa, da União Brasileira de Escritores e é finalista do Prêmio Açorianos.

2000 - Publica Um terno de pássaros ao sul, livro que recebe o Prêmio Destaque Literário da 46ª Feira do Livro de Porto Alegre. Ingressa no mestrado em Literatura Brasileira, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

2001 - Recebe o Prêmio Açorianos de Literatura, e Marengo D' Oro (Itália). Publica Terceira Sede.

2002 - Recebe o Prêmio Cecília Meireles, da União Brasileira de Escritores, e Açorianos de Literatura. Defende dissertação e conclui o Mestrado, com estudo sobre A Teologia do Traste na poesia de Manoel de Barros, em contraposição à Psicologia da Composição de João Cabral. Publica Biografia de uma árvore. Nasce Vicente, seu segundo filho. Ele tem a serenidade adulta. Olha com a boca.

2003 - Prêmio Nacional Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, com Biografia de uma árvore, escolhido o melhor livro de poesia de 2002.